segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cigarro


Numa esquina acendeu mais um. Parou. Olhou. “P-A-R-E: Puta Armada Repentina Esperada”. Firmou as pernas. Soluçou. Rodeou a sigla numa comemoração olímpica. Desequilíbrio olímpico numa marcha atlética não convencional. Parou. Mirou a sarjeta. Firmou-se com os membros superiores. Sentou. Amassou o maço. Queimou uma mão calejada e suja. Com a outra acendeu outro. “P-A-R-E: Pombas, Arrume Restos Escrotos”. Socos levados estão para o rapaz sentado na sarjeta como o atual está para acender o próximo. O próximo é o último do dia. À noite comprará soltos. Acaba de aderir à idéia de um camarada. “Quando você compra solto, você economiza e fuma menos”. Ainda sentado, tira a única camiseta. Fecha a boca o máximo que pode. Tecido até o pescoço. Uma mão suja e calejada segura a guimba. A outra suja e calejada passa o tecido pela cabeça sem derrubar os óculos escuros. Aperta o passo como pode. Seu novo pisante estará velho quando terminar de pagá-lo. Sente sua cabeça e pés apertados. Mãos apertadas numa abstinência crepuscular. Trajeto conhecido e infinito. Faz os cinco minutos restantes em meia hora. Vasculha os bolsos até o tilintar. Tenta todas do molho. Fechado atrás de si enfrenta a leve subida. Crava com toda força do poderoso pisante a cada movimento olímpico. Rodopia. Coreografa. Rodopia. Crava. Duplo rodopio. Crava. Cachorro entrelaçando pernas. Pulando para lambê-lo à cara.